ARTIGO COMENTADO: CLASSIFICAÇÃO DA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA PELA RADIOGRAFIA DO TÓRAX

25-05-2014

Autores: Leilane Marcos, Gerson Linck Bichinho, Emmanuel Alvarenga Panizzi, Keidy Karla Gonçalves Storino, Davi Carpintéro Pinto   

Radiol Bras. 2013 Nov/Dez;46(6):327–332

Estima-se que a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) afeta aproximadamente de 6% a 15,8% da população brasileira com idade superior a 40 anos (1-5). A DPOC é a quinta maior causa de internação pelo sistema único de saúde (SUS), com 196.698 internações ao ano (1–5).

O rendimento da avaliação da DPOC pelo estudo radiológico simples é bastante limitado, não havendo anormalidade na radiografia se não existir aprisionamento de ar (1–7). Nestes casos, a principal alteração é a redução da vasculatura, o que somente é perceptível muito tardiamente, na história natural da doença, além de ser um critério de extrema subjetividade (1-5).

Quando há aprisionamento de ar, os critérios mais seguros são: 1. diafragma rebaixado ou retificado, abaixo do sexto espaço intercostal, anterior, na inspiração máxima; 2. aumento do espaço claro retroesternal (maior que 3 cm), persistência do aumento do espaço claro retroesternal na expiração; 3. coração alongado e verticalizado, com o diâmetro transverso, na sua maior extensão, inferior a 11,5 cm, permanecendo afilado mesmo com aumento do ventrículo direito; 4. a presença de bolhas é inferida pela identificação de área de maior radiotransparência, avascular, podendo ou não estar delimitada por fina linha branca(1–7).

 O grande problema clínico destes achados radiográficos é a inespecificidade deles. Dentro do diagnóstico diferencial dos achados de hiperinsuflação pulmonar, o aumento de câmaras direitas do coração, com redução da vasculatura intrassegmentar, pode também ser identificado em hipertensão arterial pulmonar sem enfisema. Outro importante cenário clínico são os pacientes com asma grave que apresentam todos estes achados radiográficos e não têm DPOC.

Outrossim, estes critérios, além de inespecíficos, quando presentes, são pouco sensíveis, tendo como exemplo as bolhas que só estarão presentes em cerca de um terço dos casos avançados (1-7). Entretanto, de acordo com o último Consenso Brasileiro de DPOC, a radiografia simples de tórax nas posições postero-anterior e perfil, deve ser solicitada, rotineiramente, nesses pacientes (8).

No presente artigo, Marcos et al. avaliaram quantitativamente as radiografias torácicas de indivíduos com e sem DPOC, verificando se os dados obtidos da imagem radiográfica podem classificar o indivíduo como portador ou não de DPOC. A conclusão deste estudo é de que as variáveis que permitem uma maior discriminação entre estes dois grupos estão relacionadas ao diafragma.

Entretanto, apesar destes sinais serem possivelmente úteis na diferenciação de pacientes com e sem DPOC, deve-se incluir no diagnóstico diferencial destes achados uma grande variedade de doenças, que vão desde asma até a hipertensão pulmonar. Deve-se também, conscientizar a comunidade acadêmica, da incapacidade de se diferenciar, pela radiografia de tórax, as mais diversas formas de hiperinsuflação pulmonar vistas na DPOC.

Ressalta-se o fato de que os dados deste estudo apontam para importância da avaliação dos achados quantitativos de hiperinsuflação pulmonar, o que ainda é pouco difundido na radiografia convencional, devendo ser usado para reduzir a variação na interpretação dos achados radiográficos.

Referências Bibliográficas:

1.Irion KL, Hochhegger B, Marchiori E, et al. Radiograma de tórax e tomografia computadorizada na avaliação do enfisema pulmonar. J Bras Pneumol. 2007;33:720–32.

2.Irion KL, Marchiori E, Hochhegger B. Tomographic diagnosis of pulmonary emphysema. J Bras Pneumol. 2009;35:821–3.

3.Hochhegger B, Alves GR, Irion KL, et al. Emphysema index in a cohort of patients with no recognizable lung disease: influence of age. J Bras Pneumol. 2012:38:494–502.

4. Hochhegger B, Meireles GP, Irion K, et al. The chest and aging: radiological findings. J Bras Pneumol. 2012;38:656–65.

5. Menezes AM, Perez-Padilla R, Jardim JR, et al. Chronic obstructive pulmonary disease in five Latin American cities (the PLATINO study): a prevalence study. Lancet. 2005;366:1875–81.

6. Reid L, Simon G. III. Pathological findings and radiological changes in chronic bronchitis and emphysema. Br J Radiol. 1959;32:291–305.

7. Reid L. The pathology of emphysema. Chicago: Year Book Med Publ; 1967.

8. Sociedade Brasileira de Pneumologia eTisiologia. II Consenso Brasileiro sobre Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC – 2004. J Bras Pneumol. 2004;30:S1–S42.

9. Marcos L, Bichinho GL, Panizzi EA, et al. Classificação da doença pulmonar obstrutiva crônica pela radiografia do tórax. Radiol Bras. 2013;46:327–32.

Autoras do comentário:

Luiza Martins Faria (coordenadora científica da ASSOBRAFIR – Regional SC) e Christiani Decker Batista Bonin (Diretora da ASSOBRAFIR – Regional SC) 

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